José Agostinho da Fonseca (1886-1945)
A foto é de 1928.
Comentários extraídos do encarte do CD “Sinfonia Amazônica” (volume 2), escritos por Vicente José Malheiros da Fonseca:
José
Agostinho – dobrado (nº 12), que Wilson Fonseca dedicou, em 1945, a seu
pai José Agostinho da Fonseca, mestre de banda e clarinetista. Os
magníficos contrapontos da peça revelam o talento de Isoca, sutil nas
oportunas insinuações do clarinete, cujo desenho musical transparece
citações inspiradas no fio condutor dos maxixes de seu pai. Esses
maravilhosos bordados musicais, qual diálogo entre pai e filho, parecem
traduzir gostosas brincadeiras que não escondem um certo espírito
moleque, na verdade, lições do mestre ao discípulo, numa sintonia mais
do que polifônica. Por isso, os músicos aprenderam a ter uma admiração
especial, quase uma veneração, por essa música tão inspirada. Em virtude
de repetições necessárias de trechos da composição, alguns chegam a
considerá-la um “dobradão”, dada a sua extensão inusitada para o gênero
(9 minutos), que, guardadas as devidas proporções, lembra as longas
obras-primas de Beethoven, Wagner, Bruckner ou Mahler. É impossível
deixar de destacar ainda outros pontos na obra. Primeiro, a delicadeza
de expressão na melodia do inevitável “forte”, com os contratempos
suavemente destacados. Segundo, a passagem genial para a última parte da
peça, simbolizada por uma pausa de quatro tempos (um compasso inteiro),
significativo silêncio, no extraordinário anúncio para o trecho mais
bonito da peça, cujo realce foi coberto pelo golpe do prato, a fim de
demonstrar que a música não terminava ali, mas continuava, como na
eternidade da vida, numa oportuna idéia do Maestro Tinho, na homenagem
que também presta ao saudoso avô, cujo nome herdou, com talento e
dignidade. E terceiro, a linda marcação do contrabaixo na última parte
do dobrado, entrecortada de toques sutis do trompete. “José Agostinho” é
a origem do entrelaçamento de outras criações de Wilson Fonseca, de
nítida influência nos dobrados nºs. 40 e 33, que dedicou ao filho e ao
neto (“Tinho – 40 Anos” e “Tinhinho” – faixas 14 e 9 do CD “Sinfonia
Amazônica”, volume 1), qual DNA que marca o estilo inconfundível de
Isoca. É a reverência ao mestre, seu genitor, com todos os ingredientes
necessários à manifestação da mais pura gratidão, sob a forma de música.
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